sexta-feira, 17 de outubro de 2008

#27 - Fernando Grade

A MÚSICA DAS TREVAS

Através dos vidros quebrados passou o anjo
e era apenas um nome em pânico, um brusco fender
sangrento de flores.
Anjo serve somente para pensar
que o fogo na floresta esta vez não foi muito cruel:
é uma palavra que esconde as calemas
e traz um cheiro de fruto à pele das raparigas
mas por muito bonito que o som seja
e viva carinhoso, íntimo entre as outras palavras
o mar ruge sempre e rasga as rochas
engole casas de pedra ou palha
O MAR NÃO NADA COM ANJOS.

Trazias (é verdade) o nome de anjo
para a minha vida. Era um bicho apaixonante com barbatanas e
guelras e tem passado o tempo a retalhar rosas.
Esse bicho poderás ser tu, leitora do caos
que te masturbavas há 20 anos ao som
dos meus versos lusos, à viola. Sei que vais envelhecendo
ao ritmo com que o Bob Dylan envelhece,
nos cabelos pretos que perco
em países de cidra e mel.

Através do medo em cobra passou o anjo
entre prédios novos e tristes que cheiram a taberna
mas a música das trevas zela por nós.

1 comentário:

magrbina disse...

Fanam
As tuas palavras escorrem do meus olhos à boca e enchem o espaço de metáforas.Digo com palavras tuas "A terra tem um sentido/fazer com o corpo esteja sempre/cercado de flores".Sentados no chão de pernas em cruz transferimos um olhar,um beijo e uma ternura imensa.
Marla