O VELHO AMOR
Nem sempre um saxofone anuncia a Páscoa
mas por aqui se sobem descendo
as curvas e contracurvas da senda
que a um calvário conduz serpenteando
contra o martírio a cruz os cravos os espinhos
a senda da radiosa e branca alegria
da alegria de anunciações matinais
-- nocturna seja a música --
pois também naqueles lábios Deus habitou
os de Julian Adderley -- recuso dizer Cannonball
-- alegria é paz
-- alegria é luz
e mais recuso a calúnia de blasfemo
nem sempre um saxofone foi obra do diabo
também o diabo celebrará a Páscoa
daquele que tentou sem vencer
desistindo -- vade retro -- pela fuga
ou por um excesso de amor magoado incompreendido
(oh vilipendiado Lúcifer)
jazz não é chaga sulfúrea de vício lúgubre
senão vede o coração pulsando
copulando no contrabaixo
grande esquife mugidor generoso corpo/caixa
vede pés e mão do baterista como esfregam
a matéria levitante
entre o éter e o sangue
buscando conciliação por dentro do tempo cerrado
(matemática linear paramentada em artifícios)
que mais poderia Deus querer
na grande falta da sua completa solidão
senão esta invenção pascal do jazz
para o fim do seu imenso tédio
sábado, 30 de agosto de 2008
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
#15 - Ricardo António Alves
Humanidade
A doçura daquela
voz a tristeza daqueles
olhos o calor da
trompete de
Armstrong o segregado
desmentindo o ódio
A doçura daquela
voz a tristeza daqueles
olhos o calor da
trompete de
Armstrong o segregado
desmentindo o ódio
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sábado, 23 de agosto de 2008
#14 - João Paulo Monteiro (Ângelo Novo)
O ídolo da juventude
estou morto sobre um piano abandonado
agoniado de jazz
descrente de sonhos que não me sonhei sonhar
reincidente nesta lucidez de estar farto de moscas
vou entrando nas répteis represas do presente
rasgando anjos de papel com as botas e os punhos
(o sangue cai sempre sem remorso
num silêncio incorruptível)
estou vivo num mar de plástico e excedentes
e o refrão soa distante como não haver mais distância
expande-se e reflui e explode nas minhas têmporas
no future no future no future
ergo a face o sorriso acoplado
leviathan cuspindo no chão
então digo
é meu o século do terror sem limites.
estou morto sobre um piano abandonado
agoniado de jazz
descrente de sonhos que não me sonhei sonhar
reincidente nesta lucidez de estar farto de moscas
vou entrando nas répteis represas do presente
rasgando anjos de papel com as botas e os punhos
(o sangue cai sempre sem remorso
num silêncio incorruptível)
estou vivo num mar de plástico e excedentes
e o refrão soa distante como não haver mais distância
expande-se e reflui e explode nas minhas têmporas
no future no future no future
ergo a face o sorriso acoplado
leviathan cuspindo no chão
então digo
é meu o século do terror sem limites.
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segunda-feira, 18 de agosto de 2008
#13 João Pedro Mésseder
DIANA KRALL
All or nothing at all
na retina do ouvido
a Diana Krall
Na cidade
um piano
E a noite?
Consente este gesto de luz?
O relógio das sombras
foi feito
para o tempo desta voz?
-- que tal como tu
diz ainda
P. S. I love you
All or nothing at all
na retina do ouvido
a Diana Krall
Na cidade
um piano
E a noite?
Consente este gesto de luz?
O relógio das sombras
foi feito
para o tempo desta voz?
-- que tal como tu
diz ainda
P. S. I love you
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domingo, 10 de agosto de 2008
#12 José Tolentino Mendonça
CONCERTO DOS TINDERSTICKS
Impossível dizer até que ponto
a rapidez de tudo
atinge as paisagens na sua certeza
o significado dos instintos
desde muito cedo
os modos de travessia, os receios
imagens em que não pensamos
pela noite tua voz descreve
isso de nós que não tem defesa
um amor
largado às sombras, irreconhecível
até de perto
dizem que se tratou de
derivas, ingenuidades, ilusões
o teu amor é um nome qualquer
que parte
Impossível dizer até que ponto
a rapidez de tudo
atinge as paisagens na sua certeza
o significado dos instintos
desde muito cedo
os modos de travessia, os receios
imagens em que não pensamos
pela noite tua voz descreve
isso de nós que não tem defesa
um amor
largado às sombras, irreconhecível
até de perto
dizem que se tratou de
derivas, ingenuidades, ilusões
o teu amor é um nome qualquer
que parte
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quinta-feira, 7 de agosto de 2008
#11 João Pedro Mésseder
ELLA
Esta voz
-- confia --
faz da noite
o tesouro do dia
Esta voz
-- confia --
faz da noite
o tesouro do dia
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