O VELHO AMOR
Nem sempre um saxofone anuncia a Páscoa
mas por aqui se sobem descendo
as curvas e contracurvas da senda
que a um calvário conduz serpenteando
contra o martírio a cruz os cravos os espinhos
a senda da radiosa e branca alegria
da alegria de anunciações matinais
-- nocturna seja a música --
pois também naqueles lábios Deus habitou
os de Julian Adderley -- recuso dizer Cannonball
-- alegria é paz
-- alegria é luz
e mais recuso a calúnia de blasfemo
nem sempre um saxofone foi obra do diabo
também o diabo celebrará a Páscoa
daquele que tentou sem vencer
desistindo -- vade retro -- pela fuga
ou por um excesso de amor magoado incompreendido
(oh vilipendiado Lúcifer)
jazz não é chaga sulfúrea de vício lúgubre
senão vede o coração pulsando
copulando no contrabaixo
grande esquife mugidor generoso corpo/caixa
vede pés e mão do baterista como esfregam
a matéria levitante
entre o éter e o sangue
buscando conciliação por dentro do tempo cerrado
(matemática linear paramentada em artifícios)
que mais poderia Deus querer
na grande falta da sua completa solidão
senão esta invenção pascal do jazz
para o fim do seu imenso tédio
correspondências
Há 1 dia