Noite de Lisboa com Auto-retrato e Sombra de Ian Curtis
filamentos de gelatinoso néon invadem a catedral
em celulóide do filme nocturno: a arquitectura de asas
abóbadas de vento pássaros de lixo
som
pálpebras de lodo sobre a boca do homem que rasteja
de engate em engate pelas avenidas da memória
e quando encontra a porta de um bar mergulha no inferno
bebe furiosamente
o peito encostado ao zinco duma geração de subúrbio
presentes aqui os jovens, com a canga nos ombros
e o mundo poderia desabar dentro de 5 minutos
o corpo estilhaça
os vidros esfregados nos ombros no peito
onde uma veia rebenta para mostrar o radioso canto
depois dança contorce-se embriagado
cobre o rosto suado com aponta dos dedos espalha
sangue e cuspo construindo a derradeira máscara
cai para dentro do seu próprio labirinto
como se a verticalidade do corpo fosse um veneno
domina-o um estertor
uma corda invisível ata-lhe a voz
não se moverá mais
apesar de nunca ter avistado os órgãos profundos do corpo
sabe que também eles se calaram para sempre
a noite é imensa e já não tem ruídos
a morte vem dos pés sobe à cabeça alastra ferozmente
mas a sua inquietante brancura
só é perceptível na súbita erecção do enforcado
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
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